A importância da capacidade de negociação numa estrutura de debate estudantil

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*Por Anna Irene Nunes Mendes de Paula

“Negociar é a arte de chegar a acordo. O objetivo básico é assegurar que os outros participantes tenham incentivos suficientes para chegar a um resultado que sirva os seus objetivos.

A única forma de alcançar os objetivos da sua delegação através da negociação é chegar a acordo com outras delegações. A negociação é difícil e, tal como outras atividades difíceis, a preparação é essencial. Os negociadores bem-sucedidos preparam-se para a negociação, fazendo um plano.” (Guia da ONU sobre as Nações Unidas)

O Conselho de Representantes da Faculdade de Direito da UnB é formado por uma estrutura de representação estudantil que passa grande parte do seu tempo discutindo questões que dizem respeito às necessidades provenientes do quadro de alunos da faculdade.

Sendo formado, obviamente, por membros do próprio quadro discente da faculdade, possui um cenário único que permite a discussão de temas por aqueles que estão diretamente inseridos em tais situações. Também pode provocar um panorama de discussões mais intensas, em que perspectivas pessoais influenciam as opiniões emitidas (sendo até mesmo o esperado).

Como já ilustrado no texto de apresentação da coluna “Uma introdução ao Conselho de Representantes”, o CR possui discussões que, a depender da importância, são passíveis de votação. Assim, os alunos podem “transmitir” o seu voto na figura de seus representantes.

Assim, é necessário que o cenário de discussões possa propiciar ao mesmo tempo um espaço aberto para manifestações divergentes, mas que se encontram a partir de um objetivo em comum: a resolução de uma problemática (ou o iniciar do caminhar para tal).

É interessante pensar em mecanismos para que a discussão siga num caminho adequado de deliberação, visto que a reunião possui um tempo máximo de 2h (em média) e todos devem ter oportunidade de se manifestar. Além disso, uma simples discussão sobre o assunto que não apresenta diretrizes por vezes não é suficiente para resolver uma problemática apresentada e pode transformar a reunião em algo meramente protelatório, o que não é o objetivo.

O objetivo da celeridade e do melhor uso do tempo e da presença dos representantes e outros presentes na reunião se demonstra desde a apresentação da convocatória. É necessário que o(a) presidente faça as seguintes perguntas: quais temas requisitados para entrar em pauta realmente podem ser discutidos pelo conselho (em termos de mecanismos para o devido tratamento do assunto)? Se sim, terei tempo suficiente para falar sobre isso junto aos outros assuntos presentes na pauta? Se não, talvez não seria mais adequado articular com outros setores da faculdade para tratar sobre isso? Essa temática entra melhor nessa convocatória ou precisa de uma reunião específica para ser tratada?

Após a organização desses aspectos e a devida divulgação das pautas nas redes sociais do conselho, temos o desafio de coordenar e mediar a própria reunião. Mais importante do que uma simples organização de tempos de fala, me refiro à própria ambientação da reunião. Muitas reuniões acabam terminando com o desenvolvimento de um programa de trabalho e/ou a redação de notas/resoluções que demonstrem a posição do Conselho referente a algum acontecimento ou tema específico. A própria votação padrão representa um consenso (ou da maioria) a respeito de algum tema que se desenvolve a partir de discussão prévia, que normalmente toma toda a reunião.

Dessa maneira, a capacidade de negociação se demonstra talvez como o mais importante artifício dentro da reunião, principalmente levando em conta as circunstâncias já apresentadas como predominantes. 

A partir disso, podemos pensar em alguns princípios para basear a discussão: separar a pessoa dos problemas; focar nos interesses e não nas posições; criar, inventar e desenvolver formas criativas de resolução para o conflito e eleger critérios como base de negociação. 

As pessoas presentes nos conflitos, por mais que sejam parte essencial da discussão, muitas vezes possuem dificuldades em focar no problema e no desenvolvimento de uma solução. Focar na despersonalização dos temas e tentar afastar uma imagem individual da pessoa que está realizando a fala. Nesse processo, o controle emocional pode ser um dos artifícios que contribuem para uma melhor compreensão da fala e do ponto que está se tentando chegar (porém é compreensível que nem sempre é possível manter uma estabilidade emocional dependendo do que está sendo tratado). Tentar compreender o lado e as dificuldades da outra pessoa e buscar entender o que o outro quer dizer em sua exatidão também é importante chave nesse processo.

Somos movidos pelos nossos interesses, sendo assim, é importante já delimitá-lo de antemão. Todavia, é possível confundir uma pessoa na negociação com o seu real interesse visto que a posição é a decisão sobre a forma como você quer ter o que você almeja, enquanto o interesse é o que te fez decidir dessa forma, ou seja, o porquê de decidir assim. Assim, o foco na comunicação eficaz e nos objetivos do futuro podem determinar o sucesso de uma negociação visto que as posições podem ser conflitantes, mas os interesses podem ser compatíveis (principalmente ao pensarmos que estamos tratando de assuntos que em grande parte dizem respeito a todo o corpo discente).

A criatividade também pode ser um grande artifício ao nos depararmos com empasses em determinadas discussões. Muitas reuniões poderão ser proteladas ou postergadas por conta de uma concepção errônea de que existiria apenas “uma decisão certa”, o que em grande parte das vezes não é verídico. Várias opções podem ser suscitadas e exploradas pelas partes a fim de obter resoluções que beneficiam ambos horizontalmente. É importante estimular uma mentalidade aberta dentro de uma cultura de discussão para que a criação de saídas que satisfaçam os interesses em comum. Muitas vezes a discussão do mérito de algo pode acabar se transformando na busca do “vencedor” ou “quem teria a razão” e não na discussão de soluções para o problema propriamente dito.

Por fim, elencar critérios objetivos e panoramas de discussão é fundamental para que o “acordo” seja efetivo e para garantir a segurança das partes em relação a ele. Estabelecendo esses parâmetros, as partes conseguem se sentir mais “seguras” para negociar visto que poderão vislumbrar um caminho a se seguir e não serão surpreendidas com propostas além do esperado. Por exemplo, é importante que o(a) presidente mantenha em mente até que ponto tal discussão andou, para que ela não se repita em mais de uma reunião. Assim, você diminui a possibilidade de reabertura de discussão de tópicos sensíveis (que possuíram muitas divergências de opiniões) que já foram encerrados e continua a linearidade dos próximos pontos que devem ser tratados a partir desse (aumentando a efetividade e diminuindo uma “perda de tempo” desnecessária).

Em síntese, esses são alguns apontamentos que podem ajudar no desenvolvimento efetivo das discussões dentro das reuniões do Conselho de Representantes através de uma perspectiva de negociação. Por mais que grande parte dessas medidas devem ser observadas pelo(a) presidente, também é de suma importância que outros membros do quadro operativo do CR observem essas necessidades, visto que o(a) presidente é comumente presente apenas como mediador das interações (sendo os representantes de turma os devidos protagonistas). 

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*Anna Irene Nunes Mendes de Paula: Graduanda em Direito pela Universidade de Brasília. Ex-presidente e membra do Conselho de Representantes. Coordenadora-discente do projeto de extensão HABEAS LIBER, sediado na Faculdade de Direito da Universidade de Brasília. Foi monitora de Teoria Geral do Processo 2, ministrada pelo docente Vallisney de Souza Oliveira na Faculdade de Direito da Universidade de Brasília. Membra do Centro de Estudos Constitucionais Comparados (CEEC/UnB). 

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