ESTA CASA PREFERE UM MUNDO SEM O DESEJO POR VINGANÇA. [FINAL NOVICE – VIII Catarinense]

Por Rubens Rangel de Medeiros Filho

Nesta série, apresentamos debates no modelo parlamento britânico de que participamos na Hermenêutica – Sociedade de Debates da UnB. Nesse formato há duas duplas de Governo, que devem apresentar argumentos para apoiar a moção (proposição tema do debate), e duas duplas de Oposição, que argumentam em sentido contrário. Aqui apresentamos as teses e os argumentos de cada lado.

O debate central deste tópico gira em torno da preferência do Governo por um mundo sem o desejo de vingança, destacando a felicidade como o fator determinante para avaliar o sucesso do argumento. O cenário direto é a ausência do desejo de vingança, que não implica na eliminação da punição, mas sim em uma abordagem reformulada dos atos prejudiciais. Nesse cenário, em vez de buscar vingança, as pessoas optam por educar e dialogar a respeito dos efeitos negativos dessas ações, o que evita a perpetuação de um ciclo de ódio e vingança, prejudicando a felicidade geral da sociedade. Esse princípio é aplicável tanto nas interações interpessoais quanto em níveis sociais mais amplos.

Uma abordagem voltada para a educação e o entendimento das consequências dos atos prejudiciais, visando à prevenção de danos futuros. Em suma, a ausência do desejo de vingança é vista como um fator que promove a felicidade ao substituir o ódio e a vingança por diálogo, educação e ressocialização. Essa abordagem é considerada particularmente eficaz, uma vez que frequentemente as pessoas não cometem atos prejudiciais por maldade, mas por falta de compreensão dos efeitos negativos de suas ações. Em vez de perpetuar um ciclo de ódio, o foco recai na prevenção e na educação, o que contribui para maximizar a felicidade e promover uma sociedade mais harmoniosa e equitativa.

A abordagem do Governo contrasta com a perspectiva oposta, que se baseia na manutenção do desejo de vingança. Nesse ponto, o Governo argumenta que a perspectiva social introduzida pelo segundo governo é uma alternativa eficaz. Nesse cenário, a sociedade busca interromper o ciclo vicioso. Em vez de focar apenas na punição, a sociedade adota uma abordagem preventiva, implementando sistemas de empatia e educação. Isso ajuda a compreender as causas subjacentes dos atos prejudiciais, como a desigualdade do capitalismo, e procura abordar essas questões para evitar que a criminalidade ocorra em primeiro lugar.

Em resumo, o cenário do Governo, que busca um mundo sem o desejo de vingança, é orientado para a quebra do ciclo de vingança, incentivando uma abordagem coletivista e preventiva em proteção da sociedade, em contraposição à dependência exclusiva da busca de vingança individual. Isso cria um mundo com maior harmonia e minimização de danos sociais, promovendo uma mudança eficaz.

Finalmente, o Governo argumenta que o desejo de vingança é uma resposta humana natural à necessidade de proteção e reparação. Surge quando alguém se sente prejudicado, ofendido ou machucado pelas ações de outra pessoa. O argumento do Governo conclui que, ao abandonar o desejo de vingança, há o potencial de promover maior estabilidade nas relações internacionais, melhorar a saúde mental das pessoas e reduzir a criminalidade, o que contribuiria para uma sociedade mais segura e saudável.

A Oposição, por outro lado, sustenta que a vingança é uma resposta inerente a ações negativas, manifestando-se como um desejo de retaliação ou recompensa negativa. Quando alguém é prejudicado, a Oposição argumenta que a pessoa sente a necessidade de que o ofensor também sofra consequências, em busca de equilíbrio e reparação. A questão central de controvérsia envolve o grau de punição associado a esse desejo. Embora as pessoas geralmente busquem alguma forma de punição, que pode variar desde uma retribuição equivalente até um castigo mais severo, a Oposição ressalta que a sociedade desenvolveu mecanismos ao longo do tempo para evitar punições excessivas. Em seu cenário, denominado “status“, a ênfase recai sobre a busca da reparação em vez de punição.

De acordo com a Oposição, a ideia fundamental é que, quando alguém é prejudicado, é necessário não apenas reparar o dano sofrido, mas também responsabilizar a pessoa que causou o dano. O grau de punição é regulado pelo Estado, assegurando que seja suficiente para desencorajar futuras infrações e restabelecer o equilíbrio. O foco predominante é na reparação, não necessariamente na vingança ou no sofrimento proporcional infligido ao ofensor.

A abordagem da Oposição realça a importância de as pessoas buscarem ativamente seus próprios interesses em vez de dependerem exclusivamente de terceiros, como proposto pelo primeiro governo. As pessoas tendem a priorizar seus próprios interesses, e, consequentemente, é vital que elas busquem reparação, seja através da cooperação com as autoridades policiais, a busca de assistência jurídica ou por outros meios que busquem justiça. Esse enfoque é particularmente relevante em situações onde a resolução de conflitos se torna mais desafiadora.

Com relação ao ciclo vicioso de ódio mencionado, a Oposição argumenta que ele tende a ser mantido sob controle devido à existência de mecanismos sociais e à supervisão do Estado, que impedem que o desejo de vingança se torne excessivo. A Oposição sugere que o ódio em si não necessariamente prejudica a qualidade de vida das pessoas. Em vez disso, no cenário por eles proposto, é incentivado o esforço para buscar a reparação e evitar a perpetuação de injustiças. Além disso, a motivação de evitar que a injustiça se repita é vista como um incentivo positivo em seu modelo.

Em resumo, a abordagem da Oposição visa maximizar a reparação e minimizar a injustiça, permitindo que as pessoas busquem sua própria reparação. Ao mesmo tempo, eles buscam evitar punições desmedidas e a intensificação do ódio. No contexto da Oposição, a justiça é vista como mais equilibrada, e as pessoas são incentivadas a buscar sua própria reparação, reduzindo assim a sensação de impotência e promovendo a prevenção de injustiças.

A Oposição também argumenta que a raiva, frequentemente vista como prejudicial pelo Governo, pode, na realidade, ser uma força impulsionadora da indignação e da ação contra a injustiça. Eles acreditam que a vingança é uma motivação poderosa para buscar a justiça e promover mudanças. Em comparação com o mecanismo do perdão, a vingança é vista como mais eficaz, pois motiva as pessoas a se oporem às injustiças, em vez de aceitá-las passivamente. Historicamente, a ausência de vingança, conforme argumentado pela Oposição, não conduziu à justiça, uma vez que as injustiças persistem devido a estruturas sociais e econômicas.

A palavra “desejo” implica que a vingança nem sempre se traduz em ações concretas e violentas, o que representa um erro comum, muitas vezes confundido com ódio ou raiva. Na perspectiva da Oposição, o desejo de vingança emerge da humilhação, do sentimento de desmerecimento e da degradação sofridos após uma injustiça pessoal. Essa experiência motiva o desejo de vingança, ou seja, a busca por correção. Em última análise, a Oposição reforça que o desejo de vingança é um desejo de corrigir as injustiças cometidas contra uma pessoa. Consideram-no uma ferramenta que motiva a reflexão sobre problemas sociais e a busca de soluções corretivas.

E você? Qual lado gostaria de defender neste debate?

O autor: Rubens Rangel de Medeiros Filho, um irremediável apaixonado, graduando do 8º período de Direito pela Universidade de Brasília e integrante do módulos na Sociedade de Debates Hermenêutica!

 

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