Autor: Francielle Araújo Pains
Nesta série, apresentamos debates no modelo parlamento britânico de que participamos na Hermenêutica – Sociedade de Debates da UnB. Nesse formato há duas duplas de Governo, que devem apresentar argumentos para apoiar a moção (proposição tema do debate), e duas duplas de Oposição, que argumentam em sentido contrário. Aqui apresentamos as teses e os argumentos de cada lado.
O governo aponta que o status quo sobre o Nordeste está associado a uma visão da região baseada em sua riqueza histórica e cultural; contudo, essa cosmovisão não tem impulsionado a prosperidade econômica da região. Nesse sentido, o governo apresenta duas propostas. A primeira baseia-se na construção de parques tecnológicos a fim de promover o desenvolvimento econômico, e a segunda, como consequência da primeira, baseia-se no fomento da geração de postos de trabalho advindos dos polos de tecnologia. Assim, o principal stakeholder desse cenário, o nordestino, não necessitaria praticar migração laboral para os grandes centros brasileiros, como São Paulo. A fuga de cérebros em áreas cruciais
gera uma defasagem de mão de obra no Nordeste para outras regiões administrativas do Estado brasileiro, já que a região concentra suas políticas públicas principalmente nas áreas culturais e turísticas.
Apesar de capacitados, os trabalhadores se veem obrigados a buscar oportunidades no Sul e no Sudeste; no entanto, a recepção dos nordestinos nessas regiões está calcada em estigmatização e preconceitos. Dessa forma, a solução para mitigar esse problema é a adoção da visão desenvolvimentista na região nordestina. Com isso, o governo traz dois objetivos a serem priorizados caso haja desenvolvimento e caso não se invista em desenvolvimento econômico tecnológico e industrial. O primeiro objetivo diz respeito ao investimento na capacidade de aprimoramento e capacitação dos cidadãos nordestinos. O segundo objetivo trata da estabilidade e da segurança para a economia nordestina em momentos de ameaças, como a pandemia da SARS- CoV-2, em que o cenário da região se tornou inviável economicamente, impactando o Nordeste. Essa situação mostrou que apostar e concentrar em apenas uma modalidade econômica, como o turismo e a cultura, pode deixar a população em uma situação de vulnerabilidade.
Ressalta-se que a intenção não é acabar com o turismo ou mesmo diminuir essa atividade na região, mas sim diversificar os investimentos e a agenda de políticas públicas. A divulgação dos valores e da cultura nordestina, nesse sentido, não seriam impactados. O Nordeste possui uma representação substancial nesse setor, assim, essa cultura não viria ser apagada ou suprimida. Como exemplo, o governo cita a região norte do Brasil, em que, antes do estabelecimento da Zona Franca de Manaus, era uma região com baixo desenvolvimento econômico e baixa densidade demográfica. Após investimentos no setor tecnológico e industrial no estado do Amazonas, essa região passou a ser visualizada como um potencial tecnológico e cultural, mostrando que os investimentos não apagaram a riqueza cultural.
Nesse sentido, a junção dessas duas características para o Nordeste parte do incentivo para que pessoas possam ver a oportunidade de se consolidar no Nordeste, principalmente através de empresas. A priorização da visão desenvolvimentista na região permitiria a diminuição da visão preconceituosa e estigmatizada, não associando a imagem deturpada de seca e miséria. Dessa forma, permitirá a possibilidade de uma visão do Nordeste para além dos valores culturais sem que os suprima; o propósito é mostrar alternativas como um ponto de identificação na economia. Assim, a população passará a se identificar com essa realidade econômica. O Nordeste estaria atrelado aos padrões, tanto estéticos quanto financeiros. Como resultados, os impactos passariam pelo nível micro, em que estaria a centralidade do indivíduo, e no nível macro, em que estaria relacionado à coletividade.
Em contraponto, a oposição assume um parecer de que não existem apenas as duas possibilidades, mas que, na verdade, seria uma em detrimento de outra. Dessa forma, o cenário que se deve levar em consideração no Brasil é o cenário de desrespeito e caricaturização da cultura nordestina nas outras regiões do Brasil, ou seja, o desrespeito com a cultura do nordeste faz com que ele seja visto como uma cultura e região pobres. Nesse sentido, é fomentando a cultura que as pessoas irão valorizar mais a região nordestina e, não acreditando em narrativas de desenvolvimento tecnológico e industrial, assim como em outras regiões do Brasil. Na verdade, a oposição acredita que ao destacar as singularidades da cultura, as pessoas perceberão a riqueza da região e seu potencial de desenvolvimento.
Com isso, a oposição aponta que a valorização da cultura nordestina, por outras regiões, seria o caminho ao invés de investimentos massivos em tecnologia e indústria. Para que sejam diminuídos os estereótipos e a criação de um ambiente mais respeitoso que atraiam as pessoas. Assim, a cultura deve ser divulgada de uma forma exata, como um mecanismo de visualização para que as pessoas de outras regiões entendam como a cultura nordestina é de fato rica. Para tal, é necessário que haja uma normalização do nordestino e da sua cultura sem que seja alvo de escárnio. A oposição não concebe que o turismo irá acabar, e que, na verdade, ele é um motor de desenvolvimento para o Nordeste ao invés da construção de parques tecnológicos e industriais. Fomentar mais o turismo deveria, para a oposição, ser a principal atividade econômica do Nordeste. A oposição entende que as pessoas procuram lugares pela identificação cultural e histórica e não porque é um polo econômico.
O Nordeste possui suas próprias singularidades. Expressá-lo como um centro tecnológico, como São Paulo, distorce o que o torna diferente das outras regiões. E essa equivalência não criaria um respeito ao nordestino que ainda é estigmatizado pela sua cultura nos grandes centros. O nordestino, na verdade, é visto como uma mão de obra barata nas outras regiões do Brasil. Se enfatizar os aspectos econômicos equiparando-os com os padrões de polos econômicos, haverá uma estigmatização e submissão ainda maior. A visão econômica que vai permitir que a sua história seja perpassada pela sua cultura, mas colocada à margem e quando o nordestino chegar às outras regiões ele será visto como alguém ainda mais submetido a uma mão de obra desqualificada.
Então, agir por meio da cultura é fazer com que o nordestino seja respeitado, é fazer com que as pessoas vejam o Nordeste como um lugar atrativo, rico e diferente das demais regiões. A oposição defende que as empresas devem buscar investir no Nordeste não porque é um polo econômico forte, mas porque as dinâmicas econômicas no Nordeste estão atreladas a
imagem de Nordeste em desenvolvimento. Sem essa medida, a cultura será cada vez mais negligenciada. As pessoas possuem necessidade de consumo cultural. O lado tecnológico não é atrativo para meios de publicidade e divulgação; no âmbito cultural, as pessoas tendem a se conectar mais profundamente do que no aspecto tecnológico. Divulgar o lado cultural é pensar de forma econômica.
E você? Qual lado gostaria de defender neste debate?
Francielle Araújo Pains é graduanda do 8º período de Relações Internacionais pela Universidade de Brasília, Coordenadora de Módulos na Sociedade de Debates Hermenêutica e apaixonada por temáticas de Migração, Segurança Internacional e Defesa.