Esta Casa lamenta a simbologia da Revolução Farroupilha

Por Larissa Afonso dos Anjos [1]

A Revolução Farroupilha foi um conflito armado no Rio Grande do Sul, entre os anos
de 1835 até 1845, devido a um enorme descontentamento por parte dos líderes gaúchos com
relação ao governo imperial brasileiro. Havia insatisfação em relação à enorme carga tributária,
à centralização política e administrativa no Rio de Janeiro, à falta de autonomia para a província
do Rio Grande do Sul, além de questões econômicas e sociais, bem como a disputa pela posse
de terras e a insatisfação com o sistema escravista.
O lado do governo argumentaria que o embate em questão é de uma ideologia que
relativiza a escravidão e promove o discurso separatista do RS. Não é novidade que a identidade
rio-grandense foi em muito construída em volta dessa revolução e, como resultado, os seus
líderes passaram a dar nomes a cidades e ruas, suas leis e instituições são diferentes das do resto
do Brasil, e há um forte sentimento “nacionalista” gaúcho, que rejeita outras partes da cultura
brasileira, fazendo surgir esse espírito separatista.
A partir do momento em que você dá a essas pessoas nomes de cidades, ruas,
homenageando-as por feitos que foram engrandecidos com base na escravidão, simplesmente,
se apaga toda a história de sofrimento do povo escravizado. Isso gera reflexos problemáticos
na sociedade, que agora a não quer pensar em alguma reparação histórica para esses povos que
tiveram sua cultura usurpada e sua história de vida neste país violada, digna de vergonha.
Dessa maneira, “passar pano” aos erros do passado e não dar a devida importância a
essa sociedade afetada historicamente desencadeia cada vez mais problemas sociais de
desigualdade e injustiça. Quanto mais se aplaudir por feitos que foram alcançados de maneira
tão suja, não há nada que impeça de que esses mesmos erros possam ser cometidos novamente
em um novo cenário vulnerável.
Se por acaso se utilizasse de outras representações mais dignas de honra para um Estado,
a repercussão dessa desigualdade com esses povos que foram violentados seria muito menor.
Assim, a população hoje não enxergaria a necessidade da reparação, pois teria dificuldade de
visualizar o impacto dessa medida, pelo simples fato de não desejar perpetuar a trágica verdade
por trás desses “grandes” feitos em nome da revolução para o território.
Além disso, foi uma revolução marcada pelo espírito separatista que o Rio Grande do
Sul tem com o resto da nação. Promove-se o discurso de emancipação, simplesmente por ser
um estado que se destaca economicamente, com uma grande escala de produção e exportação.
Logicamente, portanto, seus impostos seriam maiores por deter de um maior giro de capital.

Nesse sentido, cria-se um sentimento de superioridade gaúcha, o que faz com que eles
não consigam se identificar com pautas nacionais ou sociais, pois tudo com que eles se
identificam é gaúcho. Dessa forma, não se contentam em serem pertencentes a um grupo, mas,
sim, almejam ser superiores a ele, gerando uma instrumentalização da Xenofobia na política.
Já para o lado da oposição no debate, é importante perceber que a Revolução Farroupilha
não é a principal responsável pelo ciclo escravista do Brasil. Muito menos pode o fato de
engrandecer a imagem das elites que utilizaram do regime escravocrata no RS ser tido como
culpado por toda essa violação, injustiça e a história de preconceito racial do país.
A escravidão no Brasil já existia antes mesmo de se pensar em Revolução de Farrapos,
é injusto com os rio-grandenses colocar todo o crédito nacional do racismo e da violência sob
sua responsabilidade. O que aconteceu foi apenas mais um cenário, de que esse regime fez parte
de uma revolução contra a coroa, como em qualquer outra em outros estados, por exemplo São
Paulo com os bandeirantes e Minas Gerais com sua inconfidência mineira.
O estereotipo de os gaúchos serem mais brancos, terem olhos azuis, cabelo loiro, por
exemplo, não demonstra necessariamente uma separação da cultura do Brasil; mas sim, o fato
de que foram mais colonizados por holandeses, italianos e alemães. Assim, sua população tende a ter mais esses traços do que a de qualquer outra região do país, e, consequentemente, gerou-
se uma população mais europeizada

Vale ressaltar que qualquer mudança na época imperial dependia das manifestações de
elites agrárias. Portanto, seria pouco provável utilizar a imagem de alguma figura de um
escravo, por exemplo, que conseguisse promover tais revoluções, que sim, tiveram seus
impactos fundamentais no Brasil para evoluir-se como nação.
A união do Sul foi fundamental para alcançar seus direitos que hoje são aplaudidos. O
motivo de essa união ser confundida com espírito separatista é que, por muito tempo, o RS se
provou ter uma certa autonomia social e econômica, em seus deveres, mostrando-se saber o que
é melhor para si.
Devido a isso, cogitou-se a independência do estado, pois, em um país que não
apresentava oferecer uma estabilidade nacional para seu povo, e muito menos o reconhecimento
dessas elites econômicas de maneira significativa e representativa, o Rio Grande do Sul se
manteria e se sairia melhor sozinho. A ideia não é ser egoísta com o resto do país,
negligenciando ajuda, mas sim, de despreocupar o país com mais um estado que pode muito
bem se virar sozinho e gerar mais resultados benéficos de maneira independente para sua
população.

A Revolução Farroupilha traz a representação de valentia e bravura, quando o estado se
posicionou contra o poder central a fim de alcançar notoriedade para seu povo e a equidade de
direito entre os estados, dispondo o interesse do estado do Sul em comparação com os interesses
da união que era extremamente centralista e monopolizado.
Através da Farroupilha foi possível o direito de eleger o presidente da província a partir
da participação rio-grandense, o aumento da taxação do charque estrangeiro e a diminuição do
nosso charque pela proteção do produto nacional. Portanto, com essa revolta foi possível
entender o Rio Grande do Sul como um estado com particularidades para promover as leis da
sua capital.
Dessa maneira, é inegável reconhecer a importância dessa Revolução não só para o
estado do Rio Grande do Sul, mas gerando impactos em todo o país, sejam eles negativo ou
positivos. De acordo com tudo que se provou ao decorrer desses anos e levando em
consideração todos seus impactos de mundo vistos hoje, fica a questão: você seria a favor ou
contra da Revolução Farroupilha?


[1] Graduanda do 7º período de Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, bolsista e Integrante como diretora de módulos na Sociedade de Debates Hermenêutica da Universidade de Brasília

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