Você obrigaria os políticos eleitos a utilizarem apenas os serviços públicos?
Essa é uma discussão bastante comum no diálogo popular haja visto a vontade polular por melhoria dos serviços básicos e necessários do seu cotidiano. Contudo, poucos de fato adentram no debate de quais seriam os ônus e bônus dessa medida.
Essa obrigatoriedade traria aos políticos, classe tipicamente rica e com preferência a serviços privados, a obrigação de, por exemplo, utilizar o ônibus para chegar ao trabalho, matricular seus filhos na escola pública e usufruir apenas do SUS quando ficassem doentes. Ou seja, a idealização de um mundo em que seja imposto ao politico ter acesso apenas ao que a maioria dos brasileiros pode utilizar.
Por um lado, há o benefício de aproximação do político à realidade brasileira. Aqueles que defendem essa obrigatoriedade apontam os benefícios de sensibilização do político às necessidades básicas do povo; possibilidade de melhor gestão das verbas após a compreensão prática dos reflexos do investimento; e melhoria na imagem interna e externa do governo do país.
A sensibilização é a ideia de que quando o político estiver sujeito à precariedade dos serviços público, isto é, quando esperar horas na fila do SUS, ou quando tiver que pegar um ônibus lotado e sem devido reparo, ele será motivado a melhorar a qualidade desses serviços já que não terá a possibilidade de ignorá-los. Nesse cenário ainda seria facilitada a fiscalização da destinação das verbas, pois como o político sentirá na sua própria vivencia a importância desses serviços básicos, ele será mais engajado em suas ações de fiscalização na destinação das verbas e contratação de profissionais.
Já a ideia de melhor gestão está pautada no raciocínio de que o primeiro passo para resolver o problema é compreendendo-o. Tal como em uma faculdade é necessário não apenas frequentar as aulas teóricas, mas também exercer esse conhecimento em um estágio prático, um político necessita experenciar as demandas brasileiras para poder de fato aprender a utilizar seu poder de governo em prol da melhoria de qualidade de vida da população. Desse modo, mesmo que o político não se simpatize com os problemas da população e apenas queira esperar eu mandado acabar para poder voltar a usufruir dos
serviços privados, no mínimo, ele vai ter ciência acurada de quais são os pontos críticos e precisam de prioridade na gestão do país.
Por fim, há o ponto de melhoria na imagem governamental. Ao impor à classe dominante a necessidade de viver como a maioria, cria-se uma aproximação do poder na medida em que o eleitor poderá ter contato diário com aquele que ele elegeu trazendo a oportunidade para o povo de questionar seus governantes diariamente. Essa aproximação tanto desfaz a imagem de político endeusado necessária para aprimorar o senso crítico do brasileiro quanto constrói uma imagem internacional de incentivo do país contra a desigualdade social ao impor aos mais abastados a necessidade de usar os serviços que até os mais pobres tem acesso.
Por outro lado, considerando que os recursos financeiros são finitos, há ônus nessa imposição que não podem ser desconsiderados. Aqueles que são contra a obrigatoriedade para os políticos de uso exclusivo de serviços públicos apontam para os problemas de falta de eficiência na realização dos deveres como político; aumento de insegurança pública; e personalização de serviços.
O argumento de eficiência se relaciona com a ideia de que a profissão de estadista exige circunstâncias de privilégio que são necessárias para preservar o sistema governamental do país. Por exemplo, o político necessita transitar por todo a cidade, município, estado ou até mesmo país para poder cumprir com suas funções de gestão, todavia, os serviços públicos de transporte não possibilitam esse trânsito de maneira eficiente.
Principalmente a curto prazo, essa obrigatoriedade acarretaria instabilidades uma vez que no mínimo levaria anos para ocorrer uma sensível melhoria no transporte público, mas caso o presidente, que reside em Brasília, necessite lidar com uma crise humanitária no litoral do Brasil, o que pode ocorrer a qualquer momento, a rapidez da chegada desse estadista é um fator vital para a eficiência da gestão dessa crise. Logo, é necessário que ele possa usufruir de um serviço privado de aviação caso necessário e não esteja vinculado ao uso do transporte apenas público. Outro exemplo pode-se ver a saúde: se um político sofre um atentado ele precisa ser tratado com prontidão, sem fila, sob a pena de abalar as estruturas democráticas do governo caso ele morra.
Nesse raciocínio de incompatibilidade do serviço publico com a necessidade do político, também se insere a organização da segurança pública. Da mesma forma que aproximar o político da população seja algo a princípio benéfico, é também algo extremamente
perigoso em um país tão polarizado como o Brasil. Com o presidente utilizando o mesmo ônibus que seus apoiadores e opositores, não há poder de polícia eficaz para garantir que não haveria uma briga de ideologias violentas levando à possibilidade de ferir cotidianamente tanto o politico quanto terceiros inocentes.
Por fim, mesmo que a curto prazo não haja instabilidade ou insegurança, a longo prazo, há a possibilidade de desvio de verba destinado a melhoria de serviços públicos próximos a vivência dos políticos. Por exemplo, seria extremamente trabalhoso assegurar que a escola pública que seu filho frequenta não recebe mais verba do que as outras escolas, e, levando em consideração que os recursos são finitos, isso significa que as escolas mais distantes da vivência do politico ainda seriam precárias, pois a verba que deveria ser destinada a elas será alocada para outra escola prioridade.
Em suma, obrigar os políticos eleitos a utilizarem apenas os serviços públicos envolve nuances que devem ser consideradas a fim de debater qual ação traria maior qualidade de vida para a maioria da população. Tendo em vista esses posicionamentos, o que você faria? Consegue pensar em mais algum ponto de debate?