“Esta Casa” lamenta a ascensão de “filosofia da serenidade”

 Por: Luka dos Santos Valenzuela

Para entender melhor o que seria essa filosofia é importante fazer pequenas constatações, ela fundamenta-se pela indiferença em relação aos eventos externos e o apreço pelo autocontrole. A ideia é que o ser humano nunca conseguiria enxergar o todo complexo da existência e assim para fugir da angústia, foi preciso se controlar e aceitar o lado bom e ruim da vida, sem fortes demonstrações emocionais.

Em razão desses pontos, entende-se o que significa a filosofia da serenidade.

Diante dessa caracterização, pode-se problematizar tal filosofia. Em consonância com o título, percebemos que o senso crítico é prejudicado pela serenidade, eis que o senso para existir, precisa que afete de alguma forma o indivíduo. O senso crítico pode ocorrer de forma natural ou induzida. A forma natural ocorre quando não é preciso algum gatilho para questionar o contexto, normalmente, acontece com situações que temos interesse. De outro modo, a forma induzida é quando necessária uma força no ato de pensar para questionar o meio, habitualmente, ocorre quando a gente pretende aprender sobre o que aconteceu. Percebe-se, assim, que para a existir o senso é imprescindível que nos afete, contudo, a serenidade confronta diretamente esse ponto, pois para sua existir é preciso que o ato seja indiferente para a pessoa, no sentido de não a afetar e, dessa forma, conquistar o autocontrole. Após essa problemática, apresentam-se diversos problemas pela falta de senso crítico, por exemplo, a ausência de engajamento com situações prejudiciais consigo mesmo e com terceiros. Nesta perspectiva, gostaria de abordar uma ótica do indivíduo (interna) e ótica de terceiros (externa). A ótica de terceiros ou forma externa é o ponto principal da filosofia citada, uma vez que esses pontos que são indiferentes para nossa existência, mas em um contexto social, político e econômico, percebe-se que o engajamento de um coletivo contra fatores externos, podendo ser uma guerra, e cito a guerra do Vietnã para ilustrar, auxilia para defender a dignidade humana, sendo contra tortura, estupro e crimes de guerra, que o exercíto norte americano fazia com a população vietnamita. Isso só foi possível porque afetou a população do mundo sobre as atrocidades, não sendo plausível no caso contrário ao debatido. Por outro lado, a ótica do indivíduo ou forma interna questiona-se o quanto essa indiferença pregada para fatores externos não perpassa para o interno do indivíduo e, ainda, o quanto o autocontrole faz com que suprima nossas reações, sentimentos, emoções e valores. Faço tal questionamento, tendo em vista que é necessário uma educação mental rara para conseguir controlar essa indiferença de forma assertiva e não prejudicial. Pois, facilmente podemos ser tão indiferente com o mundo externo e buscar o autocontrole que ignoramos o que nos torna particulares. Trazendo diversos problemas, como questões de autocuidado e conhecimento pessoal. Então, ao invés de fazer bem, apenas dá uma falsa sensação que está tudo bem, visto que nada nos afeta e incomoda, logo, aliena a população das questões externa e interna ao ser.

Em outra perspectiva, podemos entrar em um confronto direto com a argumentação escrita até aqui. A filosofia não tem apenas esse lado e, para isso, vou relembrar como a mídia funciona. A mídia foi e sempre será movida a visualização, quanto mais, mais lucro, e as notícias, manchetes, reportagens que mais vendem são sobre problemas, miséria, desigualdade, guerra, conflitos, e afins. Como um ser humano consegue viver dessa forma sendo constantemente bombardeado por reportagens de tal conteúdo. É impossível viver sabendo de todos os horrores que aconteceram nos últimos anos, pois enquanto escrevo, leio, penso ou faço qualquer coisa, há pessoas sendo torturadas, passando fome, na chuva, ou, um pouco além, animais que foram abandonados e estão morrendo de fome e frio. Tudo que a mídia quer é sua atenção, que te afete de alguma forma para clicar na notícia e, assim, ganhar mais e mais dinheiro. Com isso, essa filosofia dá uma saída para essas pessoas que se importam demais com o mundo, que acabam sofrendo e afetando diretamente seu dia, tendo em vista que se tornará, aos poucos, indiferente. A filosofia pode ter diversos fins e uma delas pode ser como um filtro do realmente me preocupar. Atualmente, existem diversos transtornos mentais, ansiedade, depressão, burnout, entre outros, a maioria só precisa de um gatilho para iniciar crises ou transtornos. A serenidade, ao contrário do exposto anteriormente, auxilia justamente na questão interna do indivíduo, para que consiga ter uma qualidade de vida, sem ficar estressado, deprimido ou ansioso que o mundo pode acabar a qualquer momento com bombas atômicas ou, por conta do aquecimento global. A filosofia, como já dissertado, visa ao autocontrole e indiferença, o que ajuda para que as pessoas deixem de ser afetadas constantemente pelo mundo globalizado em que vivemos.

O autor: Luka dos Santos Valenzuela, apaixonado por desafios, é estudante do 5º semestre de Direito na UFRGS, e integra do Módulos da Sociedade de Debates Hermenêutica, onde desenvolve sua habilidade em argumentação e interpretação jurídica.

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